
Praça da Bíblia, "curral humano" no transporte coletivo goianiense.
Estava demorando muito. Há coisa de quatro anos atrás – ou um pouco mais – houve um rebuliço em Goiânia. O povo se mostrava descontente com os carroções de transportar gado humano, literalmente falando. Então, tentou-se “abrir a caixa preta do transporte coletivo desta cidade” e admitir outras empresas que viessem concorrer com as aqui encravadas há décadas e senhoras absolutas do curral eleitoral. Mas rapidamente os que dominam este filão de ouro se reuniram e “trabalharam afanosamente” os senhores Vereadores para que votassem contrário a isto e conseguiram aprovar na Câmara e junto ao prefeito uma exclusão de concorrência externa, assim como a prorrogação da reserva de domínio do “curral humano” por mais 20 anos. Colocaram uns ônibus renovados, repintados, que foram apresentados à população como o “ó do borogodó”. Na verdade, eram a mesma coisa de antes. Bancos duros, sem estofo; janelas que não abrem na parte inferior – numa cidade danada de quente, quando o verão chega descendo o malho as pessoas se sentem como porcos em fornos de assar – e sem ar refrigerado. Uma beleeeeeezaaaaaaaa!!!! E, logicamente, subiram o preço das passagens. Ah, sim, dispensaram os cobradores (maior lucro para os donos das linhas) e jogaram sobre as costas dos passageiros e motoristas o tal sit pass, até hoje uma dor de cabeça para ambos. Pronto! Goiânia tinha sido “modernizada”. Por mais vinte anos continuaria a amargar o péssimo transporte coletivo oferecido pelos donos dos “currais eleitorais” deste Estado.
A população cresceu. O número de automóveis, também. As ruas, entretanto, continuaram as mesmas com as mesmas larguras. Daí, começaram os inevitáveis engarrafamentos. Mas isto tinha de ser alegria para o Zé Povão, gente, pois engarrafamento é coisa de cidade grande. E os goianienses não queriam ser uma cidade grande? Agora, são. Agora, sabem o que é vida de citadino pra valer. Mas para azar dos goianienses, os “coronés” ainda mandam muito por aqui e a coisa encalacrou. Nenhum “coroné” que se preze vai investir em benefício para Zé Povão. Afinal, são “coronés”, gente. Como bem mostra a novela global “Cordel Encantado”, coroné é aquilo que está ali. A oração deles é: “Venha a nós o vosso reino e a vós, nada”. O pensamento de um coroné é: “primeiro eu; segundo eu; terceiro eu. E se sobrar alguma coisa, é minha”. E o povo? Ora, que se dane! Eu sou quem importa, não esse negócio de povo. Povo é feito para depositar seus votos em mim e em meus filhotes. Não serve para mais nada.
E aí veio uma passeata no centro da cidade (alguma categoria reivindicando salário) e o inevitável atraso nos ônibus que, quando conseguiam circular, estavam lotados e não paravam na Praça da Bíblia. O povão se danou. Avermelhou-se todo. Bufou e partiu pro quebra quebra. Criança chorando em pânico; velhos correndo e caindo no chão; mulheres desmaiando e, logicamente, como acontece nas grandes cidades brasileiras, baderneiros aproveitando o furdunço para aumentar mais ainda a zorra. E foi quebra-quebra geral. Você quer saber como é montada a “caixa preta do transporte coletivo goianiense”? Então, lá vai:
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Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos da Região Metropolitana de Goiânia (CDTC-RMG), órgão colegiado que constitui o Poder Concedente, composto por representantes do Estado de Goiás, da Capital do Estado e dos municípios que compõem a RMG, responsável pela formulação das políticas públicas do setor;
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Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos – CMTC, empresa pública que ostenta o papel institucional de braço executivo da CDTC-RMG e que exerce a missão de entidade gestora pública da RMTC, cabendo-lhe, dentre outras atribuições, o gerenciamento, o controle e a fiscalização tanto da operação como da infra-estrutura do serviço;
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Concessionárias: Rápido Araguaia Ltda., HP Transportes Coletivos Ltda., Viação Reunidas Ltda., Cootego – Cooperativa de Transportes do Estado de Goiás, e a estatal Metrobus Transporte Coletivo S.A., responsáveis pela produção e execução dos serviços ofertados na RMTC;
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Consórcio da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos, que representa a atuação conjunta e consorciada das concessionárias privadas na operação da Central de Controle Operacional (CCO), na prestação do Serviço de Informação Metropolitano – SIM, e nas atividades de gestão, operação e manutenção dos Terminais de Integração da RMTC;
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Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia – SETRANSP, entidade sindical representativa das concessionárias e agente responsável pela arrecadação tarifária da RMTC através da bilhetagem eletrônica integrada por meio do Sistema Inteligente de Tarifação de Passagens – SIT-PASS.