A imponente construção do Paço Imperial ainda permanece de pé e nas décadas de 60/70 teve destaque no salto das telecomunicações no Brasil.

A imponente construção do Paço Imperial ainda permanece de pé e nas décadas de 60/70 teve destaque no salto das telecomunicações no Brasil. Neste prédio foi instalada a primeira central de telefonia internacional, com centenas de máquinas de fax e dezenas de telefonistas bi e trilíngües duramente selecionadas pela EMBRATEL.

Os ginetes deitavam-se sobre as crinas esvoaçantes dos dois poderosos cavalos, que voavam literalmente por entre capim e charcos a caminho do centro do Rio, mais precisamente a caminho do Palácio Cruz e Souza, no local que seria denominado de Praça XV de Novembro. Nos tempos de Dom Pedro aquele local era conhecido como Praça do Carmo e, depois, como Largo do Paço, mas tivera, no início da colonização do lugar, o nome de Praia da Piaçava. Naquela praia o Conde de Bobadela deu início à construção, que só terminou em 1745, quando o Governador era Gomes Freire de Andrade, cujo nome passou a uma Avenida bem movimentada no Rio de Janeiro da atualidade. Era, pois, para o vetusto palácio do Largo do Paço que Bonifácio e Dom Pedro galopavam à toda. Seus cavalos, habilmente conduzidos pelos dois cavaleiros, meteram susto em muitos viandantes nas estreitas sendas que conduziam da Quinta da Boa Vista até o Largo do Paço. Muitas mulheres que carregavam na cabeça jarros com água, assustadas tinham deixado que seus jarros se espatifassem no chão. Os dois foram xingados de todos os nomes feios da época, mas limitavam-se a dar gargalhadas quando os ouviam e continuavam o galope.

O prédio no Paço Imperial que foi residência de Dom Pedro I e de seu filho, Dom Pedro II. Foto da frente do edifício.

O prédio no Paço Imperial que foi residência de Dom Pedro I e de seu filho, Dom Pedro II. Foto da frente do edifício.

No imponente prédio da residência oficial de Dom Pedro, no Paço Imperial, reinava grande agitação. Os oficiais do exército e da marinha esperavam ansiosos pelo comandante supremo, Dom Pedro, que naquele momento corria à toda para juntar-se a eles e tomar decisões cruciais para o Brasil.

Os navios avançavam e dentro em pouco estariam ao alcance dos canhões dos fortes, mas nenhum disparo foi dado. Os emissários ainda não haviam chegado até os comandantes. Um deles, o que se dirigia à Fortaleza de São João foi quem chegou primeiro ao seu destino. Justo naquele momento em que as naus portuguesas estavam na iminência de atingir distância de tiro de cada nau. Haveria confronto? O quê fazer?

— Três salvas de alerta! Três salvas de alerta!  Não é para atingir as naus. Apenas salvas de aviso. Elas devem parar o avanço. São as ordens do Príncipe Regente!

A bandeira de sinalização homógrafa contém duas cores em forma de triângulo.

A bandeira de sinalização homógrafa contém duas cores em forma de triângulo.

O comandante do forte arregalou os olhos. Correu para junto dos canhoneiros e lhes deu as ordens, ao mesmo tempo em que mandava que o sinaleiro avisasse, por sinais semafóricos ao forte de Santa Cruz, no outro lado da Baía, a ordem de Dom Pedro. Os sinais eram feitos com duas bandeiras coloridas e o sinaleiro se colocava de modo a não ser enxergado por quem estivesse nos navios que entravam na baía.

No Forte de Santa Cruz o comandante observava o seu sinaleiro traduzir os sinais que via através de uma luneta. Então, quando a mensagem acabou, chamou seu imediato e ordenou que mandasse preparar urgentemente os canhões para os disparos. Tinham menos de vinte minutos para dar as salvas, antes que o forte também ficasse ao alcance dos canhões dos navios portugueses.

Pantera, o cavalo negro da filha do coroné Raimundo era como este.

Durante muitos anos foi no lombo de cavalos como este que a História do Brasil foi escrita.

Dom Pedro e Bonifácio chegaram ao Paço esbaforidos. Antes mesmo que os cavalos parassem a corrida o Príncipe já pulava no solo e mal tocava as pedras do chão corria em disparada para a entrada do Palácio em que morava com sua esposa, Dona Leopoldina. Em disparada, empurrando quantos não tinham tempo de afastar-se de sua trajetória, subiu de três em três degraus para o segundo andar, onde se situava o grande salão de reuniões. Ali encontrou o alto comando reunido, todos ansiosos e expectantes. O aspecto plebeu do soberano não mais lhes causava espanto, pois era costume de Dom Pedro andar tal e qual um escravo. E era assim que estava trajado. Entrou e foi direto para a cabeceira da grande mesa de reunião.

— Senhores, não devemos apavorar-nos. Ordenei aos fortes que os mantenham ao largo. Não poderão desembarcar. Ninguém desce à terra. Somente o comandante da frota será recebido por mim. José Bonifácio me substituirá enquanto vou tomar um banho e me vestir de conformidade com a etiqueta.

Ela era destituída de todo atrativo feminino, mas era inteligente e foi um braço forte ao lado de Dom Pedro.

Ela era destituída de todo atrativo feminino, mas era inteligente e foi um braço forte ao lado de Dom Pedro.

Dona Maria Leopoldina retirou-se do quarto quando o Príncipe entrou. Não disse nada. Sem curvar a cabeça e com dignidade simplesmente afastou-se andando tão suave que parecia flutuar, em que pese sua alta estatura. Ela era feia. Loura e sem qualquer sex appeal, carecia de qualquer prenda de beleza física, embora fosse dotada de uma formação educacional excepcional. Sabia que seu real esposo era promíscuo. Sabia que quando ele se retirava para o Palácio da Quinta em companhia do detestado José Bonifácio era para fornicar com alguma rapariga ou, até mesmo, com alguma mulher casada que lhe tivesse despertado o instinto. Mas sua dignidade não lhe permitia escândalos. Tinha-se casado com o Príncipe por questões políticas e só por isto se mantinha em seu papel de esposa. Mas apenas “papel”. Desempenhava o papel e só. Dom Pedro, por sua vez, tratava-a estritamente e rigidamente dentro dos protocolos da corte. E deixa por conta da esposa todos os rapapés e intriguinhas palacianos, o que o desagradava sobremodo. Gostava, amava a esbórnia e a fornicação com quantas mulheres lhe caísse na alcova. Vivia pegando doenças venéreas (ou, como se diz atualmente, sexualmente transmissíveis) e, por isto, contava piamente com seu alcoviteiro-mór para descobrir mesinhas e remédios que lhe restaurasse a saúde genital e preservasse seu vigor sexual.

Meia-hora depois eis que um Príncipe, trajando como deve se trajar alguém com tal título, adentrou a sala de reunião.

— Majestade — disse Bonifácio, curvando-se diante do amigo, agora Príncipe Regente do Reino brasileiro. — Tomei a liberdade de mandar que o Almirante Xavier enviasse uma chalupa até o navio do comandante da frota para trazê-lo a nós. Creio que isto levará umas duas horas ou um pouco mais, visto a distância em que se encontram as naus.

— Aproveitemos, então, para traçarmos nossos planos…

— Majestade — cortou o Coronel Manoel Marcondes de Oliveira Melo, futuro Barão de Pindamonhangaba — Estou sabendo que as freguesias de São Paulo e de Minhas Gerais andam muito agitadas. Focos de rebeldes, defensores da coroa portuguesa, andam muito agitados. Não podemos impedir que a notícia da chegada desta frota os alcance. O correio chegará até eles levando a notícia em, mais ou menos, dez dias. Seja o que for que fizermos, neste meio tempo, eles não saberão. Vão pensar que El Rei Dom João voltou a dominar estas terras e temo que tenhamos dores de cabeça, por isto.

Dom Pedro o olhou, sério. Aquilo realmente era de preocupar. Mesmo que ele fizesse o que tencionava, isto é, pôr a esquadre de volta ao mar, não poderia fazê-lo em tempo hábil para que a fantasia não fosse açulada nos resistentes à sua regência. Quebrando o silêncio que se fizera, respondeu ao preocupado e zeloso sub-comandante da guarda de honra.

José Bonifácio foi companheiro de Dom Pedro em muitas de suas aventuras em defesa do Brasil.

José Bonifácio foi companheiro de Dom Pedro em muitas de suas aventuras em defesa do Brasil.

— Chegou ao meu conhecimento que a Junta de Governo de Minas Gerais, composta pelo Tenente-coronel Pinto Peixoto, português de nascimento, e o juiz Cassiano Esperidião de Melo Matos, também de Portugal, estão, à sorrelfa, preparando a separação daquela província do restante do território brasileiro. Este seu temor tem certo fundamento, senhor Coronel Manoel Marcondes. Creio que, tão logo eu solucione este pequeno impasse da frota portuguesa em nosso mar costeiro, terei de tomar uma decisão com relação a este assunto espinhoso. Não quero, em princípio, causar derramamento de sangue. Não é bom que comecemos este país já molhando sua terra pródiga com nosso sangue e o sangue de seus filhos. Não desejo seguir o exemplo da Europa que se banha em sangue. O sangue derramado sempre é cobrado pelo Criador, que não aprova as guerras entre Seus filhos.

— Senhor — indagou Francisco Gomes da Silva, conhecido pela alcunha de “Chalaça”, grande amigo de Dom Pedro e seu alcoviteiro-mór. — Como pretende agir?

— Não sei, Chalaça. Ainda não tive tempo de pensar neste assunto. Mas tenha a certeza de que vou agir. Só os céus me poderão impedir.

— Seja qual seja vossa decisão — disse “Chalaça” —, conte comigo e com todos os que aqui estão. Somos-vos fiéis até à morte.

Dom Pedro apenas assentiu com um leve aceno de cabeça, olhando para o tampo da mesa a fim de evitar constrangimentos.

— Minas Gerais — disse Bonifácio — é uma das mais estratégicas e poderosas freguesias que temos. Também é grande em população, acho que com seiscentos mil habitantes. Ouro, pedras preciosas e outras riquezas fazem daquela freguesia um tesouro que não podemos dar-nos ao luxo de perder. Para ninguém — frisou, passeando o olhar por todos os presentes. Todas as cabeças assentiram em silêncio.

Com um pigarro, Luís de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito, diplomata do Reino do Brasil, que na época atuava como Secretário de Estado e que viria a ser distinguido por Dom Pedro com o título de Marquês de Taubaté, falou.

— Com o povo das Minas Gerais é necessário muito tato. São manhosos, falsos. Sempre indicam desejar algo, quando na verdade miram outro alvo. Nunca se sabe quando falam a verdade ou quando nos engabelam com palavras açucaradas enquanto armam cilada por nossas costas. Aconselho muito tato, portanto, ao lidar com aquela gente.

O alferes Francisco de Castro Canto e Melo assentiu com a cabeça e acrescentou que estivera pouco tempo a serviço do Príncipe nas Minas Gerais e podia avalizar o que acabava de dizer o senhor Secretário de Estado. Lidar com os mineiros era andar sobre bosta seca de boi. Ela poderia ou não, rachar e afundar, atolando o pé do incauto.

Todos estouraram numa gargalhada com a tirada do alferes e o riso descontraiu a tensão.

Dom Pedro passou a estimular a todos a falarem sobre o que ouviam a respeito da situação nas freguesias. Sabia bem que a freguesia Pará-Maranhão era a mas visada pelas coroas portuguesas e também sabia que nela, poucos eram favoráveis a ele, Dom Pedro. A freguesia abrangia um território praticamente virgem, mais habitado por silvícolas ferozes e canibais, do que por cidadãos brasileiros ou de outras nacionalidades. O que possuía de bom era a madeira e os tesouros ainda não de todo descobertos e explorados. Também sabia que o Rei George, da Inglaterra, por detrás do poderia naval inglês, manobrava para que Dom João conseguisse separar aquele grande território para Portugal, pois assim seria mais fácil a águia inglesa fincar suas garras afiadas naquelas terras tão cobiçadas.

O Príncipe Regente, em que pese ser um homem desregrado no que dizia respeito à alcova, era, contudo, um dirigente bem informado e cioso de seu Poder. E era esta sua qualidade que agradava aos presentes e a todos eles fazia fiéis seguidores seus.

O tempo escorreu e eles não notaram o quanto, mergulhados que estavam em discutir e planejar o quê e o como fazer para manter o incipiente Brasil unido a qualquer custo. A preocupação maior era com os que ainda teimavam em se colocar a favor das cortes de Lisboa. Estes constituíam a dor de cabeça dos presentes. Mas Dom Pedro não era homem de deixar para amanhã o que pudesse fazer hoje, ainda que à noite. Assim, enquanto ouvia seus colaboradores falarem sobre as dificuldades e a fragilidade do Reino, tomava uma decisão que não confessou ali, naquele momento, para evitar os inevitáveis disse-me-disse dos que se colocariam ou a favor, ou contra sua idéia.

E quando as discussões já amainavam, eis que entra no salão, impetuoso, chapéu debaixo do braço e andar marcial impecável, o comandante das naus portuguesas atracadas longe do porto.

— Eu saúdo o príncipe regente, Dom Pedro, filho de nosso amado rei Dom João, de Portugal. Venho em paz e, por isto, gostaria de saber…

— Senhor comandante — cortou, seco, Dom Pedro — peço-vos que deixeis de lado as melifluidades desnecessárias. Todos temos desconfiança da razão pela qual fostes enviado para cá. Por favor, ide direto ao assunto.

De pé, empertigado, o comandante estendeu a mão contendo um envelope, no qual havia sua apresentação oficial ao Príncipe Regente. Foi José Bonifácio quem pegou o envelope e o repassou a Dom Pedro. Este o abriu e leu atentamente o comunicado. Ali dizia que o Comandante Francisco Maximiliano de Souza, do alto almirantado naval de Portugal, vinha comandando mil e duzentos homens em substituição aos que tinham sido obrigados a se retirar do Rio de Janeiro sob o comando do general Avilez. A ordem peremptória era de que o Príncipe não opusesse resistência ao Comandante, pois este tinha ordens de mandar que os 160 canhões das naus disparassem sobre a cidade e contra os fortes, em caso de desobediência.

Dom Pedro permaneceu olhando para o papel, desconcertando a todos os que ali se encontravam. Francisco Maximiliano de Souza, empertigado, aguardava que Dom Pedro lesse o documento que entregara. Reprimia um riso de escárnio com dificuldade, pois conhecia as ordens e acreditava que o Príncipe não tinha saída. As cortes lhe outorgavam, a ele, Maximiliano, plenos poderes sobre todas as defesas brasileiras em todas as freguesias. Dom Pedro era destituído da condição de comandante supremo das forças armadas brasileiras. Não era, na prática, grande coisa, pois o país, totalmente incipiente, devendo muito mais do que produzia, não possuía uma força armada unificada. Espalhadas pelas várias freguesias, as tropas e guarnições com verdadeira organização militar encontravam-se, em quase toda a totalidade, sob comando de militares portugueses.

Enquanto lia, Dom Pedro repassava mentalmente toda a gravidade da situação. O novo comandante, se assumisse o posto, depressa organizaria um exército capaz de neutralizar qualquer tentativa de rebeldia dos brasileiros. O Príncipe levantou a cabeça e fixou, com olhar inquiridor, o militar diante de si. Após um silêncio estudado, que incomodou o comandante da frota portuguesa, finalmente falou e sua voz soou forte e com as palavras bem pronunciadas.

— Comandante, onde está, neste documento, o sinete e a assinatura de meu pai, o rei de Portugal e Algarve? Eu não os vejo. Por acaso, El Rei não tomou conhecimento do que aqui consta?

Todos os olhares se voltaram para o comandante, que pela primeira vez, desde que ali entrara, se sentiu inseguro e incomodado. O Príncipe Regente não lhe dera ordem de descansar nem o convidara a se sentar. Todos se mantinham de pé, o que o fazia sentir-se inseguro.

— Quem assina o documento, como Vossa Majestade pode constatar, é o Representante Eleito das Cortes Portuguesas em Portugal, Ásia e África. A decisão deles sobrepõe-se ao de El Rei, Majestade.

— Não para mim, comandante — soou a voz decidida e em tom de censura, do Príncipe. — Não para o Brasil, feito Reino por meu pai. Eu não reconheço a autoridade das cortes e o Brasil delas não faz parte. Dialogaria com o senhor se viesse como emissário de meu pai. Como não veio assim, o senhor e todos os que se encontram a bordo de seus navios não têm permissão de desembarcar. Seus navios devem manter-se ao largo. Qualquer tentativa de entrar na baía os nossos fortes vão disparar para afundar sua frota.

— Majestade! — gritou o comandante, perdendo a postura. — Isto é uma clara declaração de desobediência! Um acinte à autoridade das cortes, que jamais será tolerado por Portugal!

Dom Pedro não se abalou e friamente, mas com voz decidida determinou.

— O senhor será escoltado à chalupa que o trouxe. Voltará ao comando de sua frota. Mas não olvide que está sob a mira de nossos canhões. E se não possui mais de dois mil e quinhentos soldados, não tente o desembarque. Asseguro-lhe: será suicídio.

Quatro guardas cercaram o comandante português que não teve alternativa que não se retirar sob escolta.

— Majestade — disse Bonifácio —, isso foi praticamente uma declaração de guerra às cortes.

Como única resposta o Príncipe lhe estendeu o documento que o comandante Maximiliano lhe havia entregue. Bonifácio o leu em silêncio e o passou aos outros. Ao final, todos estavam preocupados.

— Não seria melhor mandar afundar toda a flotilha? — Indagou o “Chalaça”, sério. Ele era um dos mais íntimos do Príncipe. Seu “faz tudo”, inclusive arranjar-lhe os encontros com as mulheres que lhe tivessem despertado a libido e, ainda, retirá-lo das encrencas fossem quais fossem.

— Se atirássemos primeiro todos os navios que estão no nosso porto — e são quase quatrocentos — testemunhariam contra nós. Abriríamos a guarda para que os navios ingleses, a título de defender e ajudar o rei de Portugal, nos invadissem e em um único dia arrasassem o Rio de Janeiro. Viriam para matar-nos e, principalmente, ao nosso Príncipe e a Bonifácio, pois é sabido por todos os reinos que os dois são os sustentáculos da resistência ao desmantelamento do Brasil. Não “Chalaça”, a idéia é péssima. A estratégia do Príncipe foi a mais acertada. O comandante deve ser o que provocará o combate — disse Luis Saldanha da Gama.

— Ele pode lançar mão de um estratagema ardiloso e decisivo contra nós — falou o alferes Francisco de Castro Canto e Melo. — Pode ordenar o avanço da frota para forçar o ataque dos fortes. Isto justificaria o revide arrasador. 

Houve um silêncio de preocupação entre eles. O alferes tinha razão.

— Conheço bem o Maximiliano e ele é muito capaz de fazer exatamente isto — disse Bonifácio, cofiando o mento.

— Então, vamos anular sua chance — falou Dom Pedro, com decisão. — Alferes, mande que os sinaleiros avisem aos navios ancorados em nosso porto que este está sob a ameaça de ataque por parte da flotilha portuguesa. Digam que os fortes só dispararão se os navios avançarem contra nós. Que os ancorados procurem ir para o mais interior da Baía a fim de minimizar os riscos de avarias e baixas. Assim avisados e preocupados com a própria segurança os comandantes dos navios, se ouvirem os disparos, vão entender que atiramos para defender a cidade e a eles também. Serão testemunhas a nosso favor, se de tal viermos a necessitar.

Bonifácio sorriu e curvou reverentemente a cabeça em sinal de aprovação e admiração pela rapidez de raciocínio daquele rapaz de somente 24 anos incompletos e sobre os ombros de quem caía o peso de um país continental.

O Príncipe Regente também enfrentava uma luta de David contra Golias. Por isto era tão admirado pelos brasileiros que estavam dispostos a tombar em guerra, se preciso fosse, para dar-lhe apoio.

Sim, o Brasil teve um herói de verdade em Dom Pedro I.