Não é a Vovozona, mas toda a Casa Legislativa Brasileira que tem de prestar contas deste absurdo a nós, que votamos.

Não é a Vovozona, mas toda a Casa Legislativa Brasileira que tem de prestar contas deste absurdo a nós, que votamos.

Eu tinha acabo de mandar pro espaço nada menos que 1586 spams, graças ao “Bat Man”, um vigilante que mata a pau o esforço dos sacanas para me perturbar. Uma beleza! Pois bem, eu estava neste trabalho altamente divertido, quando chegaram Orozimbo, Vera e Felício. Convidei-os a entrar e assistir ao assassinato em massa. Felício ficou todo aceso para obter cópia do “Bat Man”, mas não pude atender ao seu pedido. É uma criação de meu filho e eu não faço a mínima idéia de como acessá-lo para fazer cópia. Ele mesmo se blinda, sacou? Mas “memoriza” os spams padrão, localiza as máquinas usadas para enviá-los e os devolve, se não mando direto para o limbo. Prefiro mandar para o limbo. Seria rebaixar-me ao nível dos idiotas mandar de volta suas asneiras.

— A que devo a honra de tão ilustres visitantes em minha casa a uma hora destas?

— Leia isto — pediu Felício estendendo-me um exemplar da Folha de São Paulo. Ali estava escrito que “A presidente Dilma Rousseff oficializou nesta sexta-feira trocas em três ministérios: Moreira Franco (PMDB-RJ) irá para a Aviação Civil, Antônio Andrade (PMDB-MG) para Agricultura e Manoel Dias (PDT) para o Trabalho. As mudanças fazem parte da reforma ministerial da presidente”.

Sim, e daí? O que eu tenho com isso?

— Tudo — disse Vera. — O senhor é brasileiro, não é?

— E daí? — Tornei a perguntar.

— E daí que deve revoltar-se com esta pouca vergonha — e ela bateu nervosamente na folha do jornal, enquanto me estendia outra folha, desta feita, uma impressão. Ali estava o cartaz que encima este artigo.

— E o que me diz disto? O senhor não se revolta com isto?

— Não. Eu me revolto com o achatamento de minha aposentadoria, isto sim. Quanto a isso aí, o Brasil tem dinheiro sobrando pelo ladrão. Pode pagar os bandidos para que se sintam ressarcidos do prejuízo de terem sido presos e retirados de seus trabalhos honestos.

— Honestos? — Gritaram os três em uníssono.

Agora você entendeu o negócio da coisa...

Agora você entendeu o negócio da coisa…

— Sim, gente. Honesto, sim. Afinal de contas os políticos lá na Casa Legislativa dão o edificante exemplo: roubem e sejam chamados de doutor; sejam ressarcidos pelo insulto. Não roubem e sejam Zé Nings. Esta é a opção. Vocês e eu não temos o que roubar, logo, somos Zé Nings. E Zé Nings servem apenas para votar e nada mais. Eu, nem para isto sirvo mais. Então, por que vocês acham que eu deveria me aborrecer com essas coisas “de somenos”?

— Mas não é coisa de somenos — gritou Felício pondo-se de pé, nervoso. — É o absurdo dos absurdos!

Fiquei calado olhando para ele, que andava de um lado para outro agitadamente.

— Felício — finalmente falei. — Em quê sua agitação vai mudar um til na situação vergonhosa do Governo deste país?

Ele parou e me olhou, desconcertado.

— Em nada — eu me respondi. — Não é assim que se deve reagir. É AGINDO. É indo aos Poderes Legais e dar um jeito de representar contra os absurdos. É apelando para a Justiça e processando os patifes. É organizando-se em grupos e indo contra o poder dos Partidos. É, enfim, agindo como Nação, não como indivíduo dentro de um arremedo de Nação.

Os três se entreolharam. Orozimbo, que não tinha aberto a boca, pôs-se de pé e convidou os outros a irem embora com um aceno de cabeça. Os dois aceitaram. Fizeram um aceno de despedida de má vontade e se foram como chegaram: envenenados de raiva contra um Sistema que de tão podre já nem mais é fedorento…